
João Anzanello Carrascoza
É com grande orgulho que apresentamos a primeira entrevista do EhDUCA. E como a ocasião pede, o convidado é muito especial. Para nossos alunos, ele é um velho conhecido. Redator brilhante e autor de alguns dos principais livros sobre redação publicitária em língua portuguesa, é referência obrigatória em nossas aulas. João Anzanello Carrascoza nasceu em Cravinhos, começou a trabalhar em nossa região e passou por algumas das maiores agências do Brasil. Atualmente, é redator da JWT e professor de redação publicitária na ECA (USP), onde recebeu o doutoramento. A cansativa rotina dividida entre o trabalho na criação e as aulas na faculdade não é fácil. Nós também a enfrentamos diariamente e podemos dizer: não é fácil! Ainda assim, Carrascoza encontra tempo para exercitar sua paixão pela escrita com poemas, romances e contos. Este profissional completo sabe como ninguém reunir com palavras razão e sensibilidade.
Com vocês, a primeira parte da entrevista com o publicitário João Carrascoza.
Aproveitem. Esta entrevista também EhDUCA.
Como você se interessou pela propaganda?
Adorava ver telenovelas, desde menino, em Cravinhos, porque era um tipo de folhetim, um oceano no qual afluíam várias histórias. E histórias sempre me fascinaram. Entre uma parte e outra de cada capítulo, eu assistia com atenção aos comerciais de TV e via neles também histórias contadas em 30 segundos. Esse formato compacto de narrativa, somado ao fato de meu pai ser um comerciante, me levou a ter um interesse maior por algo que associava o comércio à fabulação. Ou seja, a publicidade.
Você estagiou na antiga MPM de Ribeirão Preto e também trabalhou em grandes agências como Young&Rubicam. O que foi mais importante: a experiência profissional ou a formação na ECA?
Ambas foram essenciais para meu desenvolvimento profissional. Na universidade, mergulhei no pensamento complexo, aprofundei os conhecimentos técnicos e consolidei minha visão humanista da comunicação. A praxis nas agências de propaganda me proporcionou agilidade na busca das soluções, flexibilidade no discurso, e me fortaleceu a musculatura criativa.
Recentemente, o Francucci, ganhador do Caboré, disse que achava que não faria faculdade de propaganda, que faria filosofia, por exemplo. Como professor, o que você pensa a respeito? E como publicitário formado, sua opinião muda?
A faculdade de comunicação é importante para que o aspirante à carreira tenha uma formação humana, habilite-se intelectualmente para compreender o alcance de seu trabalho, inteire-se dos conceitos artísticos da vanguarda. Mas, claro, não basta fazer um curso superior de comunicação para ser um bom publicitário. É necessário uma imersão na vida cultural, um aprofundamento filosófico, uma postura ética permanente.
Além de grande redator, você dá aula na ECA para estudantes de terceiro e quarto anos. Como são essas aulas?
Procuro dosar uma parte de teoria, com aulas expositivas, a uma parte prática. Mas não unicamente com material publicitário, já que o universo da propaganda é muito auto-referencial. Busco injetar exercícios de sensibilização criativa, desbloqueio, dinâmicas em grupo, valendo-me de literatura, música, cinema, TV, internet, enfim, o que está à disposição no espesso caldo da cultura universal.
Dê um exemplo concreto de como uma referência cultural ajudou na solução criativa de um briefing.
A campanha “Azarados” para os lenços de papéis Klennex, feita na JWT, vencedora de dois Leões de Ouro em Cannes, ano passado, nas categorias filme e press&poster.


Anúncios da campanha "Azarados"
Certa vez você disse em uma entrevista que sempre te incomodou muito a distância entre a academia e o mercado profissional. Os seus livros são uma contribuição para diminuir essa distância. Mas o que mais você acha que pode ser feito?
O que precisa ser feito é estimular gente de ambos os lados a atravessar a ponte e conhecer a realidade complementar que cada um, em separado, está vivendo. Isso pode se concretizar por meio de inciativas de aproximação, como acordos empresariais, palestras lá e cá, parcerias institucionais, programas de estágios, visitações e projetos bilaterais.