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Por Henrique Tucci.
E pra começar com nossa série "Deu no AdAge", vamos falar das matérias recentes que trataram das desventuras de Neil French, o ex-todo-poderoso-diretor-mundial-de-criação do Grupo WPP. Este profissional criativo e muito polêmico realizou uma apresentação durante um evento no Canadá que lhe rendeu muito barulho. E que foi a causa do pedido de afastamento do cargo que ocupava.
Algumas declarações publicadas pela mídia e atribuídas ao publicitário são as de que criar filhos é incompatível com a dedicação necessária para ser um criativo top; que pessoas que não conseguem se envolver 100% com o trabalho são “lixo” e que poucas mulheres são diretoras de criação porque são casadas e têm filhos ou pretendem tê-los. Segundo o que também foi publicado, mulheres que trabalham com criação publicitária não chegam a posições mais altas porque não merecem.
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Antes de sair metralhando Neil, procurei mais informações, inclusive em seu próprio site – www.neilfrench.com – de onde tirei o anúncio “Apology”, reproduzido aqui. Segundo Neil, suas palavras foram distorcidas e o que na verdade ele quis dizer é que um dos trabalhos mais importantes para homens e mulheres é acompanhar sua família, o que acarreta consideráveis prejuízos a qualquer carreira. E que, devido ao fato das mulheres terem costumeiramente um papel preponderante nesta tarefa, também são as mais prejudicadas profissionalmente.
Antes da publicação do anúncio em que procura esclarecer os fatos, o criativo foi acusado de sexismo, se tornou alvo de críticas generalizadas, como na tira de humor do ‘Words & Pictures’ que o classificava como “um grande criativo, mas uma merda como ser humano”, além de ter recebido o título de “momento mais idiota do ano”, da Revista Business 2.0, do site CNNMoney.com. Ele diz ter se afastado da WPP para não piorar sua situação na empresa nem acarretar outros prejuízos morais à agência.
Independente do que o polêmico Neil declarou, ou das repercussões geradas, fica a constatação de um fato: apesar da maior presença feminina em cargos de direção de qualquer tipo de empresa, elas realmente ainda são uma minoria.
Essa discussão me fez lembrar outra grande polêmica, esta gerada pela publicitária alemã Judith Mair, autora do livro “Chega de oba-oba!”, no qual defende que o escritório não é um parque de diversões e que os publicitários, como outros “profissionais modernos”, precisam de mais disciplina, horários, regras claras e foco em desempenho. Porque também é preciso que se tenha tempo livre para adquirir informações, aprender novas habilidades e, por que não, viver em família.
Acredito que essa seja uma tendência real e universal: viver mais. Viver com mais qualidade e felicidade. Como a própria propaganda preconiza em campanhas, como a da Coca-Cola Light e tantas outras, de empresas que já detectaram essa atual disposição das pessoas, num mundo no qual também convivemos com furacões e terroristas.