sexta-feira, março 17, 2006

Ele EhDUCA - parte 2.













Talento não se compra nem se empresta. Talento, ainda que escasso, na sua forma bruta pode ter pouca valia. Por isso, ele precisa de mãos hábeis que o forjem como se forja uma frase: letra a letra, sílaba a sílaba, palavra a palavra.

João Carrascoza é um destes artistas raros. Profissional minucioso, escritor completo. E que ainda consegue encontrar tempo para ensinar e forjar novos talentos, na academia e no mercado.

Estamos muitos felizes com o privilégio de termos este profissional tão importante na primeira entrevista do EhDUCA.

Obrigado, João! Receba nosso profundo agradecimento. E de todos os nossos leitores também.

Fiquem com a segunda e última parte da entrevista.

Abrimos uma nova seção com chave de ouro. Entrem e leiam à vontade.

Um abraço a todos.

Henrique Tucci e Raul Otuzi.



O que alguém precisa saber para ser um bom redator? O que deve ler e o que deve aprender?

É necessário, fundamentalmente, ver além da publicidade. Eu diria é que preciso se entregar à vida e ser humilde o suficiente para compreender as razões do outro, não só para ser um bom redator, mas para ser uma pessoa integral. É preciso aprender a se refinar, a ler o que está por trás do véu das aparências.

Quais são os livros obrigatórios na publicidade e fora dela?

Os clássicos-clássicos da literatura universal e os clássicos-contemporâneos.


Você já trabalhou em empresas regionais, nacionais e atualmente está em uma internacional. Qual é a diferença entre estes três mundos?

É o mesmo mundo. Em algumas empresas há menos procedimentos e mais níveis de tramitação de idéias. Em outras, há mais afeto e menos profissionalismo. Claro, há diferenças de metodologia, de foco, de concepção do negócio publicitário. Mas o que interessa mesmo é a visão de mundo das pessoas que atuam nesse exíguo corredor.


Como é criar para clientes internacionais? O alinhamento da comunicação dificulta o trabalho da criação?

Por vezes, dificulta, porque a moldura publicitária se estreita: por vezes temos de fazer uma campanha que seja entendida pela mulher brasileira e pela búlgara, embora elas vivam em sociedades com valorações diferentes. Mas, por outro lado, ajuda, porque nos desafia a perseguir soluções simples, e são elas que tocam as pessoas aqui ou em qualquer parte.


Fale um pouco sobre o seu processo de criação. Você usa referências? De que tipo? Como você trabalha em dupla?

O processo de criação é algo fascinante. Todo seu repertório cultural conta na hora de criar. Referências das mais variadas são matéria-prima básica para um produto criativo diferenciado. Mas não adianta ter um manancial de discursos se não se treina associá-los de forma inusitada.


Todo criador quer ser diretor de criação? O que é preciso para ser um bom diretor de criação?

Uma visão de mundo rica, multifacetada e tolerante para com as diferenças, amplo background cultural, conhecimento pleno da indústria publicitária, sensibilidade para gerenciar pessoas, talento para incentivar, ensinar e compreender o ser humano.


Apesar de mais famoso pela publicidade, sua produção literária também é bastante premiada nacional e internacionalmente, qual é o trabalho que lhe dá mais satisfação?

Ambos me dão prazer e a mistura dessas águas é produtiva, pois uma fecunda a outra com seus diferenciais criativos. Mas há uma diferença: a publicidade tem sido meu projeto profissional, juntamente com a academia, nos últimos vinte anos, e pretendo continuar mais tempo nela. A literatura, todavia, é meu projeto de vida.


Você é um dos autores considerados como uma grande revelação da ficção nacional. Quais são suas dicas para quem também quer se tornar um escritor?

Paixão e disciplina, talvez não nessa ordem.


O que podemos perceber é uma geração que apresenta cada vez mais dificuldades com a redação, em todas as áreas. Como você vê os novos profissionais que estão chegando ao mercado? Você também acha que existe uma carência de bons redatores?

Essa carência sempre existiu. Até mesmo entre os bons redatores publicitários, há aqueles que se escondem atrás dos revisores das grandes agências. Não é fácil fazer um texto redondo, persuasivo, sedutor. Mais do que se instrumentalizar pela escrita, o redator precisa se banhar na vida e refinar seu olhar. É a sua ótica, o seu jeito de ver, que põe em pé seu edifício de palavras.


Qual será seu próximo lançamento – didático e literário?

O novo livro de propaganda será menos apolíneo que os demais, porque desejo adotar um estilo mais dionisíaco. No campo literário, teremos vários lançamentos: um deles será uma reunião de contos de meus cinco livros de histórias curtas, além de inéditos; outro será a edição de uma novela juvenil e também teremos a publicação de minha adaptação de “Pollyanna” para crianças.


Para finalizar, duas perguntas que são a essência do nosso Blog: o que é duca para você? E o que educa?

Brincadeiras à parte, duca é o que de fato educa sem a gente perceber, sem a gente impor, já que educar é desenvolver as potencialidades humanas. Assim como a frase de Guimarães Rosa: “ensinar de repente é aprender”.

Afinal, o texto salva ou não salva?


Por Raul Otuzi

O anúncio aí de cima, com uma foto tão esdrúxula, faz parte da campanha da Leo Burnett para vender o Curso para Redatores da Miami Ad School. Lembram-se do título-conceito, né? "Só um título genial consegue salvar este anúncio." Red.: João Caetano Brasil. Dir. arte: Airton Carmignani e Henri Honda.

Agora, os três anúncios aí debaixo da Almap para o Art Directors Club propõem o inverso: "Quando o visual não ajuda, não há texto que salve." Red.: Sophie Schönburg. Dir. arte: André Laurentino. O segredo? Em vez de fotos excêntricas, fotos de produtos detonados (e de um transformista) e textos de anúncios classificados cheios de elogios, ou seja, em contraste com a imagem mostra a tentativa de se vender gato por lebre.

VENDO APTO.
Estilo loft (sem paredes), prédio tombado, vizinhança animada, preço abaixo da avaliação. Ótimo negócio. F.776-0800


VENDO CARRO.Único dono. P/colecionador. Tudo original.
Nunca foi ao mecânico. Ligue agora!F.776-0800


LOIRA MANHOSA. Olhos verdes, boca carnuda, corpo escultural,
1,80 de curvas. Fogosa e carinhosa. Sigilo total. F.776-0800

"Quando o visual não ajuda, não há texto que salve."
"Só um título genial consegue salvar este anúncio."
Duas frases aparentemente contraditórias dentro do seu contexto fazem todo sentido.
Nada de novo: só uma grande idéia salva.

quinta-feira, março 16, 2006

Com essa foto a Leo Burnett vendeu...


Curso para Redatores da Miami Ad School

Manel Rolim já havia contado, e é isso mesmo. O título é genial: “Só um título genial consegue salvar este anúncio.” Título genial, conceito idem.

Agora vamos às mais criativas na nossa opinião. Pela ordem:

"Na verdade, era um formando dançando em um baile, uma bandeja na vitrine, duas xícaras em um café da tarde, o mar das Filipinas, alguma montanha no Paraná e o céu, bem, isso ninguém lembra."
Novo Photoshop. Tudo o que você imaginar.
Criação do Caneta Bic. Grande sacada, título genial. Parabéns, Bic.

"Por que as marés estão subindo tão rapidamente?"
Leia na Superinteressante de março.
Criação do Insomniac. Ótimo título. Nem precisou levar em conta todos os elementos da imagem para mandar bem. Valeu, Insomniac.

"Os cariocas gostam de água NO café."
Faça das enchentes história. Vote César Maia 2008
Criação da dupla Andre/Said. E para ficar ainda melhor, poderiam fazer uma pequena mudança: faça das enchentes águas passadas. Bela idéia, Andre/Said.

Menção honrosa:

"Às vezes um espacinho assim não é suficiente para contar o que você precisa."
E-mail do UOL. Agora com 2 giga de espaço, para você não ter que economizar na conversa.
Criação do Estagiário, que teve olhos atentos a todos os detalhes da foto. Como ele mesmo disse levou em conta o box que, afinal, está na imagem e pode ficar sem sentido, dependendo da idéia. Valeu, Estagiário.

E valeu, galera. Obrigado a todo mundo que participou.
Semana que vem, tem mais.

Abraços,

Raul Otuzi e Henrique Tucci

quarta-feira, março 15, 2006

Frases infelizes, conceitos mais que felizes

















Por Raul Otuzi

Mais um exemplo de como o mesmo princípio criativo (nesse caso, frases que pessoas famosas supostamente disseram antes de fazer uma grande besteira) serve para vender dois produtos totalmente distintos.

O segredo está no talento de enxergar um conceito inteligente, bem-humorado, por trás dessas frases. Amarrar a idéia, como vulgarmente se diz.

A primeira campanha é de 99, da Almap para o Art Directors Club. A frase do primeiro anúncio é atribuída a Roberto Baggio, final da Copa 94. A segunda de Mia Farrow, Nova York. A terceira é de Hugh Grant, Beverly Hills. E a última de Donald Trump, Nova York.
Conceito: "De boas idéias o inferno está cheio. Venha ver as que deram certo." Texto: "Mostra Prêmios Internacionais. Av. Angélica, 1900 – de 9/3 a 17/4." Assina: Art Directors Club N.Y. in Panamericana. Os melhores trabalhos de propaganda e design do mundo. Red.: Sophie Schönburg. Dir. arte: André Laurentino.

A segunda campanha é atual, da DPZ para o papel higiênico Neve. Não tem assinatura nas frases. Conceito: "Esteja pronto, sempre pode dar caca." Assina: Papel Higiênico Neve. Mais absorvente, mais resistente, muito mais macio. Red.: Fernando Rodrigues. Dir. arte: Fernanda Fajardo.

Resumo da ópera: até as piores bobagens já ditas podem virar grandes conceitos. Basta lapidar. Sempre.

terça-feira, março 14, 2006

Com essa foto dá pra vender o quê?


O que é possível vender com uma foto tão esquisita como esta? Crie um anúncio a partir desta imagem. Para quem não conhece, quinta-feira, a gente publica o anúncio original na íntegra. Sirva-se de boas idéias, e mande pra cá.

Short List - Rita Guedes na Playboy

Apressado come cru.
Rita Guedes, 14 anos de espera. No ponto.

Depois desse ensaio, a Anja vai ser promovida:
Santa Rita de Cássia.

Cometemos um pecado por você.
Tiramos a roupa da anja.
Rita Guedes a "ANJA" de alma gêmea na Playboy.

Ei diabinho! Vai uma anjinha aí?
Rita Guedes, a "anja" de Alma Gêmea, mostra a graça e esconde as asas na edição de Março.
Playboy

Você nunca rezou tanto para esse dia chegar.
Rita Guedes - A Anja de Alma Gêmea
Playboy

E não é que os anjos têm caracóis louros mesmo?
Rita Guedes, a Kátia de Alma Gêmea, na Playboy de Março.

Rita Guedes, A Anja de Alma Gêmea, do jeito que o Diabo gosta.
(Nota EhDUCA: frase afirmativa, sem ponto de interrogação no final, ok?)

Aleluia!
Rita Guedes. Finalmente, nua.
Amém.

Não perca o fim da novela.
Rita Guedes, até que enfim, na Playboy.

Por 14 anos, ela nos deu as costas. Finalmente, liberou o resto.
Rita Guedes, da novela Alma Gêmea, finalmente na Playboy

De Anja ela não tem nada.
Rita Guedes - A Anja de Alma Gêmea
Playboy

segunda-feira, março 13, 2006

O melhor anúncio de Veja


Por Raul Otuzi

Anúncio da Talent para a Linha Frost Free da Brastemp. A pegada criativa está na imagem inusitada de vários halteres dentro de uma geladeira. A idéia é representar a força que se tem que fazer para limpar uma geladeira ‘normal.’ O título reforça: “Malhar é bom na academia. Não na cozinha.”

Ou seja, o objetivo do anúncio é vender a praticidade, comodidade e facilidade de limpeza da Linha Frost Free. Veja o texto: “Quem tem que decidir a hora de limpar a geladeira é você. Não a geladeira. Linha Frost Free Brastemp. Não precisa apertar o botãozinho. Não forma camada de gelo. Não precisa descongelar nunca. É assiiim... uma Brastemp." Assina: “Brastemp. Seja autêntico.”

Comunica de forma clara e autêntica. Mas para ser sincero, acho que a direção de arte ficou devendo um pouco.